Como são testados nossos esmaltes?

10 de February, 2012 em Geral by Nanda

Muita gente tem nos perguntado se os esmaltes nacionais são ou não testados em animais. Como as informações são escassas e desencontradas, resolvi fazer uma breve pesquisa diretamente com as marcas para montar esse post.

Cindi diz: deixe meus olhos, pele e nariz em paz ou eu te mordo.

Pensei que seria simples e que receberia respostas do tipo “sim, realizamos testes em animais” ou “não, não realizamos testes em animais em nenhuma etapa do processo”, mas aparentemente o buraco é mais embaixo: a realização ou não de testes em animais não depende apenas da boa vontade dos fabricantes de esmaltes, depende da Anvisa. É a Anvisa quem solicita testes específicos sobre os cosméticos:

Apesar da proibição para testes em animais ser uma tendência mundial, ainda não há uma legislação em vigência no Brasil a respeito. Há essa tendência quanto aos produtos cosméticos brasileiros; no entanto, de acordo com o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos, ainda não é possível abandonar a utilização de animais na avaliação da segurança de produtos, por falta de métodos alternativos validados. (Anvisa)

E quando os testes em animais são necessários?

Os animais de laboratório deverão ser utilizados sempre que não existam métodos alternativos validados que os substituam ou, em casos específicos, após “screening” com métodos in vitro e/ou matemáticos válidos, precedendo dessa forma, os estudos clínicos. (Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos)

Como vocês verão mais abaixo, nas informações que a Jade Pyxis da equipe Big Universo nos passou, os testes em animais ou humanos solicitados pela Anvisa não são rotineiros, esses são realizados no caso de novos produtos ou cosméticos do grau II, ou seja, quando os fabricantes precisam comprovar a segurança e/ou eficácia de seus produtos. Já no caso do controle de qualidade, pelo que entendi, esse tipo de teste não é obrigatório.

Sentiram o drama? Levando em conta a profundidade desse buraco e o meu medo de falar abobrinha, o post de hoje que seria apenas a divulgação de uma lista de empresas que não realizam testes em animais deu lugar a algo maior, ao parecer individual de cada marca sobre como são realizados seus testes.

O post ficou super longo, então organizei o parecer das empresas em ordem alfabética, assim é só procurar pela marca de interesse. Com a ajuda da Zatz, enviei e-mails parecidos para todas as empresas abaixo, questionando o seguinte:

Olá, boa tarde.

Poderia me informar como são testados os esmaltes da (nome da marca)? Se são feitos testes em animais, humanos, in vitro? Se puder explicar um pouco de como funciona o processo de testes eu agradeço.

E agora as respostas:

5CINCO: “Nossa empresa não efetua testes em seres vivos e todos os testes exigidos pela Legislação, para esta categoria, são realizados por empresa terceirizada e devidamente certificada pelo Ministerio da Saúde e Anvisa.”

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AVON: “Todos os nossos produtos passam por um teste dermatológico por volta de 6 a 8 meses em mulheres de diversas idades (a partir dos 25 anos).

Com esse teste conseguimos saber qual o tempo de eficácia do produto e as variações que podem ocorrer na pele. Todos os testes são acompanhados por Dermatologistas e os produtos passam pelo Ministério da Saúde para que possa ser autorizada a sua comercialização.

Lembrando que a Avon foi a primeira grande empresa de cosméticos a deixar de usar animais para fins de pesquisa de seus produtos e tem utilizado uma variedade de alternativas comprovadas para testar a segurança de seus produtos e ingredientes. Também mantém uma política de evitar uso de testes em animais em toda a cadeia produtiva (fornecedores de matérias primas). Ela não autoriza a execução de testes em animais nos produtos desenvolvidos.” (porém, vide esse artigo)

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BIG UNIVERSO: “A Orion Cosméticos não realiza testes em animais ou pessoas. Como o esmalte é um produto cosmético de grau I esses tipos de teste não são exigidos pela Anvisa. Fizemos um post bacana em nosso blog sobre testes em animais. As matérias primas que utilizamos em nosso processo de produção também estão livres deste tipo de experiência.

Mas é interessante saber como funciona essa questão: cabe a Anvisa solicitar testes específicos, como em animais ou seres humanos, no caso de lançamento de um produto totalmente novo (por exemplo, esmalte em pó) ou produtos que atendam a uma demanda específica e que são conhecidos como cosméticos grau II (esmaltes para crianças ou esmalte hipoalergênico certificado, diferente do esmalte 3free). Esses testes são protocolados e você pode ter acesso a todos eles no site da ANVISA.

Infelizmente, não é escolha do fabricante fazê-los ou não. Porém os mesmos testes não são feitos rotineiramente, são feitos somente para comprovar a segurança e eficácia do uso do produto. Uma vez comprovado, não há necessidade de realizá-lo novamente.

Quanto aos testes de controle realizados aqui na Orion Cosméticos, funcionam da seguinte maneira: nosso verniz a Anvisa já aprovou para comercialização. O que realizamos hoje são ensaios de controle de qualidade, todos feitos in vitro: pH, densidade, viscosidade e aspectos organolépticos e são realizados a cada lote produzido.”

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BLANT COLORS:Informamos que os testes necessários para a comprovação da Qualidade, Segurança e Eficácia do produto são realizados em equipamentos, em pessoas ou testes in vitro. NÃO FAZEMOS EM NENHUM DOS CASOS TESTES EM ANIMAIS.”

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COLORAMA: “A L’Oréal está totalmente comprometida em conquistar a beleza sem o uso de animais. Em 1989, a L’Oréal parou voluntariamente de usar animais em testes para a avaliação de toda a sua gama de produtos acabados.

O teste em animais de ingredientes para fins cosméticos é proibido na União Européia desde março de 2009, exceto para alguns testes para os quais não exista nenhum método alternativo e que, por lei, devem continuar a ser realizados para garantir a proteção da saúde dos consumidores e do meio-ambiente. No caso da L’Oréal, pouquíssimos testes em ratos de laboratórios ainda são exigidos para garantir a segurança dos consumidores. Estes testes ainda são autorizados pela Comissão Europeia até março de 2013.

Nestes últimos anos, a indústria cosmética empreendeu muitos esforços e investiu pesadamente no desenvolvimento de métodos alternativos. A L’Oréal tem sido líder nesta área há mais de 25 anos. Nossos laboratórios contribuíram para a implementação da maioria dos métodos de substituição aceitos hoje na indústria cosmética – incluindo os testes no modelo Episkin, um modelo de pele reconstruída, validados pelo Centro Europeu para a Validação de Métodos Alternativos (ECVAM – European Centre for the Validation of Alternative Methods), que se tornou um método padrão na indústria. Outros métodos alternativos – para testar a irritação ocular e reações alérgicas – estão atualmente sendo validados.

A L’Oréal também iniciou, junto com outras empresas, a Parceria Europeia para Abordagens Alternativas aos Testes em Animais (EPAA – European Partnership for Alternative Approaches to Animal Testing), uma parceria europeia para a troca de métodos e progressos científicos para desenvolver um diálogo com as partes interessadas, incluindo as organizações protetoras de animais.”

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DERMA NAIL: “Os testes são realizados em humanos através de um laboratório terceirizado.

Os testes são realizados pela Allergisa Pesquisa Dermato Cosmética, laboratório reblado pela ANVISA, com realização de testes de eficácia e segurança, com estudos clínicos de potencial de irritabilidade e sensibilização foto-alergia e foto-toxicidade. Tais estudos são imprescindíveis para que a ANVISA  conceda o direito da utilização da chancela “Testado Dermatologicamente” e “Hipoalergênico”.

Laboratórios ‘reblados’ são os únicos com certificação (no caso pela ANVISA) que permite que os estudos  sejam aceitos  por órgãos regulatórios para registro de produto.

Para as pesquisa são selecionados 60 voluntários. Os estudos e as técnicas são fornecidos  somente à ANVISA, sendo restrito (por contrato junto a Allergisa) a divulgação do mesmo.”

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DNA ITALY: “Todos nossos produtos não são testados em animais, somos contra esta prática. As matérias primas são testadas pelos fornecedores. Os esmaltes são testados pelo químico responsável.”

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FINA FLOR: “A Fina Flor não utiliza de testes em animais na fabricação dos esmaltes e em nenhum outro produto. Primeiro por se tratar de uma crueldade, segundo por não trabalharmos com pesquisas laboratoriais para desenvolvimento de produtos.

Nossa estrutura é pequena e não teríamos como fazer os tais testes, mesmo que quiséssemos, o que não é o caso.

Toda matéria-prima que adquirimos já foi testada e aprovada (com laudos) pelos nossos fornecedores. Através destes laudos e da literatura técnica que recebemos é possível saber se foram feitos testes em animais durante o desenvolvimento de tal matéria-prima.

Quando precisamos de testes de eficácia, mandamos os produtos para laboratórios credenciados junto à Anvisa, onde eles são testados em pessoas (voluntários).

Usamos destes testes apenas para produtos grau 2, como sabonetes íntimos, desodorantes, produtos infantis e qualquer produto que tenha apelos bem definidos nos rótulos como: Hipoalergênico, Anticaspa,  Antiqueda, etc.

A Fina Flor compra as bases prontas para os esmaltes e pigmenta conforme cada cor, dispensando os testes dermatológicos, que são feitos pelos fornecedores, também em laboratórios credenciados pela Anvisa.

Aqui na empresa testamos apenas viscosidade, brilho, espalhabilidade e durabilidade dos esmaltes. Tais testes são feitos primeiramente em unhas postiças e depois em funcionárias que se candidatam para testar e avaliar esses pontos.”

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HITS/SPECIALLITÀ: “A Speciallità NÃO utiliza e NUNCA utilizou animais em testes, nem na fabricação dos produtos, de forma alguma.

SOMOS ABSOLUTAMENTE CONTRA empresas que utilizam, inclusive nenhum de nossos fornecedores realizam testes em animais também.

Não há um documento formal de um órgão que audite esse tipo de teste, mas ESTE E-MAIL PODE SER CONSIDERADO UMA PROVA de que nós NÃO PRATICAMOS NENHUM TIPO DE CRUELDADE contra os animais, mesmo porque não haveria necessidade, e além disso, tanto os proprietários quanto funcionários adoram os animais.”

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L’APOGÉE:Utilizamos em todos os nossos processos de produção, matérias-primas amplamente testadas e utilizadas no mercado de cosméticos, de fornecedores qualificados e idoneos, as quais avaliamos estas matérias-primas através de Ficha Técnica do fabricante contendo sua identificação universal que são seu CAS NUMBER e seu INCI NAME, itens estes fornecidos à ANVISA quando da Notificaçao dos produtos.

Quanto aos testes de Irritabilidade Dérmica Primária e Acumulada e Sensibilização Cutânea, são realizados  em Laboratórios terceirizados, credenciados junto a Agência Nacional de Vigilancia Sanitária e cuja metodologia apresentada, informa que os testes são realizados na pele de indivíduos  voluntários, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 60 anos.

Além disso, realizamos os testes de estabilidade dos produtos antes do lançamento no mercado, e testes de avaliação fisico-química (pH, densidade, viscosidade, comparação de cores), além do Shelf Life (vida útil) em todos os lotes produzidos, onde guardamos em condições normais de armazenamento durante a validade do produto, amostras que nos permitam sua avaliação e a realização de testes em qualquer momento.

Desde o início das atividades de nossa empresa, nunca compartilhamos com laboratórios que realizam estes testes em peles e olhos de animais, se é esta a dúvida a ser esclarecida.”

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LUDURANA: “Não realizamos definitivamente testes em animais durante todas as fases de desenvolvimento, aprovação, fabricação e/ou distribuição da nossa linha completa de produtos. Os testes são feitos em lâminas e em unhas postiças sintéticas.”

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MOHDA:Todos os testes são realizados  in vitro, nunca em animais. Teste em seres humanos são obrigatórios apenas para os esmaltes intitulados hipoalergênicos.”

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O BOTICÁRIO:Encaminhei sua dúvida ao Centro de Relacionamento com o Consumidor de O Boticário, ok? Eles vão te responder com mais clareza.” (não recebi a resposta ainda, mas achei esse artigo na página do Facebook do O Boticário).

 

REVLON: Não fazem testes em animais desde 1989.

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RISQUÉ: “Informamos que não realizamos testes em animais, os mesmo são realizados em pessoas, equipamentos ou in vitro (pele artificial).

Os esmaltes e nos demais produtos para cuidados das mãos e pés Risqué não usamos nenhuma matéria prima de origem animal.”

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TOP BEAUTY: “Não são testados em animais.”

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Infelizmente não recebemos o parecer de todas as empresas que contatamos, algumas pediram um tempo para responder, outras aparentemente nos ignoraram não viram nossos e-mails, mas deixo a relação de empresas que ainda não responderam: Ana Hickmann, Betulla (Dote e Argento),  Ellen Gold, Guga, Impala, Passe Nati e Rivka. Caso respondam, atualizarei o post.

Testar cosméticos – que nem são uma necessidade básica do ser humano – em animais é cruel e em minha opinião injustificável. Pensar que animais são torturados para satisfazer nossa necessidade de unhas coloridas me faz sentir medíocre. Porém, a meu ver, isso é mais um problema da legislação brasileira do que dos fabricantes de esmaltes em si, e nosso é claro, que não nos mobilizamos para dar um basta nessa prática.

O post de hoje é, acima de tudo, informativo. Expressei minhas opiniões em muitos momentos (afinal, isso é um blog pessoal), mas elas não invalidam de forma alguma a opinião de cada um.

Gostaria de agradecer as empresas que compartilharam com a gente um pouco do que está envolvido nesse nosso universo colorido e torço para que a indústria de cosméticos abra mão de testes realizados em animais.

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Tema polêmico = comentários educados (por favor).